É dito que na véspera de Natal o coração das pessoas enche-se de calor humano, porém isso nem sempre é verdade. Nunca é verdade.
Um menino, com seus sete anos levava uma vida adulta. Para manter-se vivo até os vinte e tantos anos, o garoto maltrapilho vendia fósforos. Os míseros trocados, uma vez por semana compravam algo, mas na maior parte do tempo o menino alimentava-se de lixo. Nos rigorosos invernos do Norte o menino implorava por dinheiro, ninguém o ajudava.
Na noite de Natal, num beco, encolhido entre os descartáveis para aquecer-se com os gases pútridos, o menino pensava. Com ele haviam três fósforos. Numa tentativa desesperada desesperada de aquecer-se o menino, que por causa do frio perdeu alguns de seus dedos, acendeu seu antepenúltimo fósforo. Olhando para a chama pequenina imaginou uma lareira. Lareira igual a daquela família que ele via pela embasada janela. Seu coração aqueceu-se. O fósforo apagou.
Ele acendeu mais um de seus fósforos. A chama transformou-se numa esplendorosa árvore natalina, com muitos enfeite e velas. Árvore que o jovem jamais teria em sua mísera vida. Pegou os presentes que estavam abaixo dela e abriu-os delicadamente.Viu a família que havia perdido para a tuberculose e pneumonia, eles o abraçaram. Seu coração palpitava. Mais um fósforo apagou-se.
O último fósforo foi acesso. Seu olhos, ele não consegui mante-los abertos. Sua vida estava no fim, mas ele não deixava-se morrer, ele era forte. No canto de seus olhos viu um vulto. Primeiro o frio tomou conta de seu corpo esquálido, mas logo este se aqueceu e o garoto foi envolto por uma incandescente luz.
No outro dia um morador o encontrou. No seu rosto congelado um sorriso sereno. Sorriso que contratava com o negrume do seu corpo carbonizado. Naquele dia um homem jogou, por sádica diversão, gasolina no menino quase falecido e ateou fogo nele. Ninguém nunca se quer ouviu falar do pequeno vendedor de fósforos. Seu carrasco nunca foi condenado, e nunca será.
Texto baseado no obra de Hans Christian Andersen.