segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Vendedor de Fósforos

          É dito que na véspera de Natal o coração das pessoas enche-se de calor humano, porém isso nem sempre é verdade. Nunca é verdade.

            Um menino, com seus sete anos levava uma vida adulta. Para manter-se vivo até os vinte e tantos anos, o garoto maltrapilho vendia fósforos. Os míseros trocados, uma vez por semana compravam algo, mas na maior parte do tempo o menino alimentava-se de lixo. Nos rigorosos invernos do Norte o menino implorava por dinheiro, ninguém o ajudava.

            Na noite de Natal, num beco, encolhido entre os descartáveis para aquecer-se com os gases pútridos, o menino pensava. Com ele haviam três fósforos. Numa tentativa desesperada desesperada de aquecer-se o menino, que por causa do frio perdeu alguns de seus dedos, acendeu seu antepenúltimo fósforo. Olhando para a chama pequenina imaginou uma lareira. Lareira igual a daquela família que ele via pela embasada janela. Seu coração aqueceu-se. O fósforo apagou.

            Ele acendeu mais um de seus fósforos. A chama transformou-se numa esplendorosa árvore natalina, com muitos enfeite e velas. Árvore que o jovem jamais teria em sua mísera vida. Pegou os presentes que estavam abaixo dela e abriu-os delicadamente.Viu a família que havia perdido para a tuberculose e pneumonia, eles o abraçaram. Seu coração palpitava. Mais um fósforo apagou-se.

           O último fósforo foi acesso. Seu olhos, ele não consegui mante-los abertos. Sua vida estava no fim, mas ele não deixava-se morrer, ele era forte. No canto de seus olhos viu um vulto. Primeiro o frio tomou conta de seu corpo esquálido, mas logo este se aqueceu e o garoto foi envolto por uma incandescente luz.

           No outro dia um morador o encontrou. No seu rosto congelado um sorriso sereno. Sorriso que contratava com o negrume do seu corpo carbonizado. Naquele dia um homem jogou, por sádica diversão, gasolina no menino quase falecido e ateou fogo nele. Ninguém nunca se quer ouviu falar do pequeno vendedor de fósforos. Seu carrasco nunca foi condenado, e nunca será.

Texto baseado no obra de Hans Christian Andersen.

sábado, 20 de julho de 2013

Moth

1º mês

          Eu sinto falta do brilho da lua. Seu tom prateado. Seu ar de serenidade. Daria tudo ela uma última vez, mas já não posso. Sua imagem de falta traz-me um frio fúnebre. O desespero toma meu corpo e um vazio, minha alma.

6º mês

          Aqui estou a meses, sem família, amigos, inimigos, e sem meu doce luar. Estou com frio, meu corpo não retem calor. Uma ideia ecoa em minha mente: "Ver o Luar novamente.". Espero libertar me logo,  sinto falta do meu mundo. 

1º ano

          Finalmente livre estou! Fora do casulo de madeira e terra, úmido sepulcro, nada mais prende-me. Voar agora eu posso, tornei-me um ser cinza-azulado, de asas prateadas como o luar. Porém algo me faz falta: uma companhia.
          Junte-se a mim, voaremos em direção à lua, juntos como um só, isso apenas custará o baixo preço de sua vida.



quarta-feira, 10 de julho de 2013

Campo de Visão

          Você abre a janela e um vento frio toma conta de todo o  ambiente, então seu corpo é envolto por uma névoa branca. Nesse momento você sente que algo te observa. De repente, vê algo  se mover no canto de seus olhos, mas, quando se vira para ver o que era, não há mais nada. Você tenta se acalmar. Ainda assustado vai para frente do computador, mas um arrepio te diz que ainda está sendo observado.
          Cansado você vai dormir, mas não consegue, algo te incomoda. Rolar na cama é o que te resta fazer. O sol apareceu, o calor do dia não. Está frio. Você quer ficar na cama, mas não pode, tem que ir trabalhar. Você está cansado, ofegante, pálido, febril. Você desmaia. Tudo está escuro. Um foco de luz aparece. Você sente um ser pálido, de olhos negros e profundos, e vê o medo tomar conta de seu corpo.
          Você acorda. Nesse momento surge um pensamento, você percebe que nunca esteve sozinho. Você lembra que aqueles olhos sempre estiveram presentes, presentes desde sua infância. Todas as vezes que você olhava no espelho, os olhos estavam lá, te observando, fora de seu campo de visão. 
          Depois dessa visão você não consegue dormir, fica histérico, paranoico. Todos te chamam de louco, mas você sabe que é real, pelo menos você acredita que é. Porém, seus esforços não adiantam, sua própria família manda te internar. Eles te drogaram. Seus olhar está cada vez mais distante. Seus olhos, fixos, olhando para o nada. Você foi lobotomizado.
          Você se tornou o seu próprio medo. A criatura. 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Resting In Peace


Mórbido, esse sou eu
Oriundo das trevas
Respiro sangue
Respiro?
Eu nem sei
Resting in Peace

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Sorria

Sorria, você não tem motivos para falar mal da vida.

Você não sofreu mais que os outros.

Você não é especial, ninguém é.

Você diz não estar vivo. 

Você ainda esta vivo.

Não reclame na minha frente.

Talvez um dia eu responda.

Não gosto de sua negatividade.

Ela me deprime.

Talvez seu reflexo responda.

Talvez eu responda com seu sorriso.

Talvez eu responda com sua vida.



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Boneca

Wikimedia Commons
          Quando eu era pequena amava brincar com as minhas bonecas. Como eu era de uma família rica, eu tinha uma coleção enorme. Não sei ao certo como isso mudou, apenas me lembro que foi assustador. Era uma noite calma, a lua brilhava no céu, e meus pais me colocaram na cama as 9 horas da noite. Naquele dia eu havia encontrado uma boneca no Playground do meu prédio  ela estava em péssimo estado, mas ela havia me deixado fascinada. Seu rosto de porcelana já estava velho cheio de marcas e pelotinhas. Naquela noite pude ver aquela boneca se mover em minha direção, gritei assustada. Meu pai entrou correndo no meu quarto, ele me perguntou o que houve, e eu respondi dizendo que vi aquele ser se movimentar. Mas ela estava exatamente onde a deixei antes de vir para cama.
          No outro dia duas bonecas que estavam do lado dela apresentaram as mesmas pelotinhas e marcas, eu me assustei, afinal o que poderia ser aquilo. Varias noites se passaram e aquela boneca continuava a me atormentar. E a cada dia que se passava mais bonecas minhas apareciam com aquelas marcas. Quando chegou meu aniversário de 14 anos resolvi por um basta naquele mistério. Fui a biblioteca de meu pai, e peguei sua empoeirada coleção de enciclopédias  procurei primeiro por bonecas, e lá estava, que até pouco tempo era comum o uso de cabelo humano em bonecas. Geralmente usavam mechas da dona da boneca em sua confecção. Continuei procurando coisas nas enciclopédias  foi quando vi uma imagem de uma criança com pelotas e marcas semelhantes há daquela boneca, eram sintomas de uma doença, a varíola. Ela é muito comum aqui, meu pai trata varia crianças com ela. Será que aquela boneca pertenceu a uma menina que morreu com a doença.
        Quando se passou um ano do encontro da boneca, eu já havia perdido varias bonecas, mas, eu não podia me desfazer daquela boneca velha e mal trapita. Certa noite, em vez de apenas andar em minha direção, aquele ser falou comigo, disse que em breve me juntaria a ela, me assustei, e nesse dia resolvi me livrar daquela boneca, a enterrei nos fundos da minha casa, no cemitério da família. Passaram se alguns anos e mamãe gravida, contraiu varíola, no parto ela morreu, e pouco tempo depois meu irmãozinho também, por que a varíola havia feito ele nascer com deformidades que o velaram a morte. Papai enlouqueceu depois da morte da minha mãe, e passou a viver em um sanatório  Eu tenho dezoito anos agora e estou doente, meu pai felizmente superou a morte de mamãe e do meu irmão, e voltou para casa, ele esta cuidando de mim, eu estou fraca.
          - Minha filha não resistiu, e infelizmente tive que enterrar mais um grande amor...
          Hoje é dia do meu enterro, já estão colocando meu corpo no tumulo, todos a minha volta estão chorando, meu pai, meu marido, minha filhinha... Todos já haviam ido quando ouvi uma foz familiar:
         - Se lembra de mim, eu disse que logo você estaria comigo, juntas por toda a eternidade. Já não estou mais só, tenho alguém para brincar comigo.
 

domingo, 13 de janeiro de 2013

Menina

Evolução do Câncer. Fonte:Wikimedia Commons.
          Nesse último ano eu adoeci. No hospital, os médicos conversaram com minha mamãe e fizeram ela chorar, não gostei disso, mas eu estava muito fraca para  defender ela, então apenas fiquei lá deitada ouvindo. Algum tempo depois eles rasparam meu cabelo, não entendi bem os motivos disso, mas eles falaram que ele cairia de qualquer forma. Mamãe foi para casa e me deixou lá, eu tinha apenas uma boneca velha de companhia.
          Em poucos dias comecei a fazer o tratamento, no começo eles espetavam meu braço, aquilo fazia ele pegar fogo, isso aconteceu apenas cinco dolorosas vezes, depois eles furaram minha cabeça, aquela substancia fazia ela arder muito, e também me deixava muito enjoada, me fazendo vomitar durante o tratamento, esse tratamento ocorreu vinte e cinco vezes. Eu me sentia cada vez mais fraca e mamãe cada vez mais triste. Ela chorava muito.
          Um dia os médicos me disseram que iam tirar meu câncer, eles espetaram meu braço novamente, só que dessa vez em vez de enjoo eu senti muito sono. A última coisa de que me lembro é de mamãe gritando e chorando desesperada.
          Acordei em um local frio, havia grandes geladeiras e nelas pessoas dormindo. Passei a mão na minha cabeça e percebi que meu cabelo havia voltado, foi quando vi meu papai, mamãe disse que ele tinha ido embora e que nunca mas nos veríamos ele, mas disse que ele me amava muito, ele também ficava em um hospital.Papai me disse, “Querida, vamos embora com o papai.”, mas eu disse, “Não!”, eu queria ficar com a mamãe. Ela nunca mais apareceu, mas tudo bem, aqui tenho muitos amigos, e eles me disseram que você iriam brincar conosco em breve. Estou esperando sua visita.